ISRAEL X PALESTINA UMA GUERRA INTERMINÁVEL!

                    CONFLITO HISTÓRICO SEM DATA PARA TERMINAR!

O Mandato Britânico na Palestina: raízes do conflito Israel-Palestina

Para compreender plenamente as origens e a evolução desse conflito, é fundamental voltar os olhos para o período do Mandato Britânico na Palestina, uma fase crítica na história que desempenhou um papel crucial na formação das tensões que persistem até os dias de hoje.

Após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as potências vitoriosas e industrializadas buscaram uma maneira de administrar territórios que não estavam prontos para a independência imediata. Isso levou à criação do Sistema de Mandatos, uma estrutura que classificava os territórios em três categorias, com base em seu grau de preparação política para a independência. A Palestina, juntamente com a Transjordânia, foi colocada sob o Mandato Britânico de Classe A, o que implica que a região estava sendo preparada para a autodeterminação. No entanto, essa preparação não foi uniforme para todas as partes envolvidas.

Entre os anos de 1922 e 1948, a Palestina estava oficialmente sob administração britânica, com o Alto Comissário exercendo a máxima autoridade na região. No entanto, o aspecto fundamental a ser compreendido é como essa administração britânica afetou a demografia e as relações entre as comunidades judaicas e árabes na Palestina. Embora a população árabe fosse numericamente dominante na Palestina, a administração britânica frequentemente favorecia os interesses dos judeus. Isso se traduziu em políticas que permitiram uma imigração significativa de judeus europeus e a aquisição de terras.

A Organização Sionista Mundial (OSM), que buscava o estabelecimento de um Estado judeu, identificou três elementos cruciais para alcançar seu objetivo: território, governo e população. Os britânicos, através de sua administração, tornaram possível a aquisição de terras e a imigração de judeus para a Palestina. Entre 1920 e 1939, cerca de 332.000 judeus migraram para a Palestina. No entanto, apesar desses números impressionantes, a maioria da população ainda era árabe, o que alimentou tensões crescentes entre as duas comunidades.

A imigração judaica em grande escala e a política favorável aos judeus por parte dos britânicos provocaram resistência e conflitos por parte dos árabes palestinos. Eles viam a chegada dos judeus como uma ameaça à sua cultura, identidade e terras, o que intensificou ainda mais o conflito.

Os conflitos internos e externos, aliados à pressão internacional e ao custo crescente da ocupação britânica, finalmente culminaram no fim do Mandato Britânico na Palestina (1948). No entanto, a herança desse período deixou uma marca indelével nas relações entre judeus e árabes na região.

Palestina e Israel: uma terra e um conflito interminável

O conflito entre Israel e Palestina remonta ao período do Mandato Britânico, mas, para uma análise mais profunda, é fundamental considerar os eventos após esse período e a criação do Estado de Israel.

No início de 1947, a Grã-Bretanha, que administrava a Palestina após a Primeira Guerra Mundial, reconheceu a impossibilidade de resolver o crescente conflito entre árabes e judeus na região. Isso levou à decisão britânica de encerrar seu mandato na Palestina, abrindo caminho para a criação de dois Estados: um árabe e um judeu. Essa proposta de partilha da Palestina foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas através da Resolução 181, em novembro de 1947. Ela designava cerca de 56% do território para os judeus e 44% para os árabes.

A proposta da ONU recebeu o apoio da Agência Judaica, representando os interesses judaicos, mas foi rejeitada pela Alta Comissão Árabe, que acreditava que uma proposta alternativa mais equilibrada deveria ser buscada. No entanto, um dia antes do término do Mandato Britânico, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica proclamou a independência de Israel. Isso resultou no primeiro conflito entre árabes e judeus, que desde então passaram a ser chamados de “israelenses”.

A Liga Árabe, composta por Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque, não aceitou a criação de Israel e, em resposta, invadiu o território palestino recém-criado, dando início à Guerra árabe-israelense de 1948. O conflito terminou com um cessar-fogo que estabeleceu a chamada Linha Verde, dividindo a Palestina entre Israel, Cisjordânia e Gaza.

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Nos anos seguintes, Israel tornou-se membro das Nações Unidas e, com uma população majoritariamente judaica, enfrentou desafios decorrentes da imigração maciça de sobreviventes do Holocausto e judeus perseguidos em países árabes. Os conflitos persistiram, especialmente com grupos palestinos que buscavam a autodeterminação e resistiam à ocupação israelense.

Em 1967, outra guerra, conhecida como a “Guerra dos Seis Dias”, eclodiu quando Egito, Jordânia e Síria enviaram tropas para as fronteiras de Israel. A vitória de Israel nesse conflito levou à ocupação da Cisjordânia, da Faixa de Gaza, da Península do Sinai e das Colinas de Golã. Essas conquistas ampliaram as fronteiras de Israel e geraram tensões crescentes na região.

A década de 1970 foi marcada por acontecimentos significativos que tiveram um impacto profundo no conflito entre Israel e Palestina. Nesse período, grupos palestinos, notadamente a Organização de Libertação da Palestina (OLP), adotaram a luta armada como meio de buscar a autodeterminação e a independência. Um desses eventos cruciais foi a Guerra do Yom Kippur em 1973, que ocorreu quando os países árabes, liderados por Egito e Síria, lançaram um ataque surpresa contra Israel durante o feriado judaico do Yom Kippur.

A Guerra do Yom Kippur teve consequências profundas, incluindo a percepção de que a questão palestina continuaria sendo um foco de instabilidade na região. Após essa guerra, o conflito israelo-palestino não era apenas um impasse entre Israel e os países vizinhos árabes, mas também envolvia grupos palestinos, que aumentaram sua presença e influência na cena internacional.

No entanto, à medida que a década de 1980 se desenrolava, surgiram oportunidades para o diálogo e a negociação. O Egito, sob a liderança do presidente Anwar Sadat, assinou o Acordo de Camp David em 1978, estabelecendo uma paz histórica com Israel. Esse acordo, embora se concentrasse principalmente nas relações entre Egito e Israel, abriu caminho para um entendimento mais amplo na região.

Nos anos seguintes, conflitos intermitentes, a construção de assentamentos judaicos em territórios palestinos e a deterioração das condições socioeconômicas dos palestinos minaram os esforços de paz. A Primeira Intifada, um levante popular palestino, eclodiu em 1987, marcando uma nova onda de violência.

A década de 1990 trouxe esperanças com os Acordos de Oslo, que visavam estabelecer um Estado Palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. No entanto, a falta de progresso nesses acordos levou a uma Segunda Intifada e ao recrudescimento da violência.

O início do século XXI testemunhou mais conflitos, como os ataques de foguetes do Hamas e a construção da barreira na Cisjordânia por Israel. O conflito tornou-se ainda mais complexo com a ascensão de grupos extremistas islâmicos, como o Hamas, o Hezbollah e o Estado Islâmico, que também reivindicaram a destruição de Israel.

Em 2008, 2012 e 2014, guerras recorrentes na Faixa de Gaza testemunharam bombardeios israelenses e disparos de foguetes pelo Hamas, resultando em um alto número de vítimas. A população civil foi gravemente afetada, e a comunidade internacional clamou por uma solução pacífica.

Mapa 2 – Faixa de Gaza / Fonte: United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs

Em 2018, residentes da Faixa de Gaza lançaram uma série de protestos conhecida como a “Marcha do Retorno”, ocorrida próximo à fronteira com Israel. Tragicamente, esses protestos foram marcados por confrontos mortais, nos quais atiradores israelenses mataram centenas de manifestantes.

A tragédia se repetiu em 2021, quando uma nova guerra entre Israel e o Hamas causou a perda de centenas de vidas na Faixa de Gaza. A situação continuou volátil e as tensões persistiram.

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E agora, em 2023, o Hamas rompeu o bloqueio e lançou um ataque surpresa contra Israel por terra, água e ar. Israel respondeu com bombardeios e declarou guerra. A busca por uma solução duradoura para o conflito entre Israel e Palestina permanece uma das questões mais desafiadoras e urgentes da política internacional, com a região continuando a ser um cenário de violência e instabilidade.

Uma guerra sem fim

O conflito entre Israel e Palestina, baseado nos eventos históricos e nas dinâmicas geopolíticas da região, revela uma realidade intrincada e marcada por décadas de tensões e confrontos. O Oriente Médio, em especial, a região da Palestina, tornou-se um epicentro de conflito devido a uma série de eventos-chave, que incluem as duas Guerras Mundiais, a criação do Estado de Israel e a descoberta de vastas reservas de petróleo.

É inegável que as grandes potências mundiais, como os Estados Unidos, Rússia, França e  Inglaterra, desempenharam papéis significativos nesse cenário complexo, frequentemente agravando as tensões. A criação do Estado de Israel em 1948, sem consulta à população árabe-palestina, foi um ponto de virada crucial, desencadeando conflitos que persistem até hoje.

A região, muitas vezes chamada de “barril de pólvora”, continua a ser marcada por disputas territoriais, confrontos armados e hostilidades profundamente enraizadas. A questão de Jerusalém, uma cidade de profundo significado religioso para judeus, cristãos e muçulmanos, exemplifica a complexidade desse conflito.

A presença de grupos radicais islâmicos, como o Hamas, o Hezbollah e o Estado Islâmico, também desempenhou um papel importante na escalada da violência e na perpetuação do conflito, tornando-o ainda mais difícil de resolver.

Apesar de décadas de esforços e negociações internacionais, a paz na região permanece esquiva. Os Acordos de Oslo, assinados em 1993, representaram um passo importante, mas a intransigência de setores radicais de ambos os lados, os assentamentos de colonos judeus em áreas palestinas e a questão do controle das fontes de água continuam a dificultar o avanço em direção a uma solução duradoura.

Nesse contexto, a busca por uma solução justa e duradoura para o conflito israelense-palestino permanece um desafio concreto. O diálogo entre as partes é constantemente interrompido pela violência, tornando a visão de dois Estados coexistindo pacificamente em uma “terra de paz” uma meta elusiva. No entanto, o reconhecimento da Palestina como Estado observador pelas Nações Unidas e pelo Vaticano demonstra um desejo de progresso, apesar dos obstáculos.

À medida que a comunidade internacional continua a buscar maneiras de promover a paz e a estabilidade na área, é imperativo considerar todos os elementos históricos, políticos, culturais e religiosos que moldam essa complexa paisagem de conflito. Somente através de um entendimento profundo desses fatores pode-se vislumbrar uma solução justa e duradoura para esse conflito histórico.

* Bruno Fabricio Alcebino da Silva é bacharel em Ciências e Humanidades e graduando em Ciências Econômicas e Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC (UFABC). É monitor do Observatório de Política Externa e Inserção Internacional do Brasil (OPEB), além de integrante do projeto "Extimidades: Teoria Crítica desde o Sul Global". Pesquisa temas relacionados a América Latina, Brics/Mercosul-UE e Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, em especial Herbert Marcuse.

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