ANDANDO COM ELE NO CAMINHO!!

NO CAMINHO COM O MESTRE! FICA SENHOR COMIGO!!
"Fica, Senhor, comigo; a noite é vasta e fria.

Segura a minha mão, até que chegue o dia.

Em Tua companhia é claro o meu caminho

e eu não quero ficar para sempre sozinho.

Não fosse o Teu cuidado, e eu, por certo, estaria

abatido e infeliz, numa senda de espinho.(POEMA GIÓIA JR)
O fato: Era domingo. Jesus já havia ressuscitado e aparecido para as mulheres nesta mesma manhã. Mas ninguém acreditou nelas, nem quando viram o túmulo aberto e sem o corpo. Dois discípulos do Mestre voltavam para suas casas em Emaús desiludidos com a morte na cruz Daquele que eles acreditavam que seria o libertador do país. Caminhavam e conversavam sobre suas desilusões. Num determinado trecho da estrada um homem se junta a eles e pergunta sobre a conversa. Eles não reconhecem Jesus e contam-Lhe os acontecimentos. E Jesus responde: “Como vocês custam para entender...”. Então Ele explica didaticamente tudo o que estava acontecendo; a morte, ressurreição, profecias, etc. Os dois escutam admirados, mas não reconhecem o Mestre. Note bem: eles são seus discípulos e não O reconhecem. Caminham quilômetros juntos (Jesus havia tido seus pés dilacerados na crucificação). Ao chegarem em Emaús convidam o homem para entrar. Eles vão jantar. Somente quando Jesus divide o pão é que eles se apercebem de que é o Mestre. Ele, então, desaparece de suas vistas.
O “corpo espiritual”: Neste relato encontramos algumas características do corpo de Jesus após a ressurreição. Não era um corpo normal como o que tinha antes da morte. Este corpo, que ficou conhecido como “Corpo Espiritual”, possui características físicas especiais:
a) Seu rosto muitas vezes possuía traços diferentes. Várias vezes as pessoas O reconheciam pela voz, gesto ou quando Ele “aparentemente” tomava uma feição mais próxima ao Seu corpo em "vida".
b) Ele podia aparecer e desaparecer imediatamente.
c) Podia entrar em lugares onde a porta estava fechada.
d) Ele mostrou à Tomé os furos dos pregos em seu corpo, mas mesmo assim caminhava quilômetros normalmente.
e) A fim de provar que tinha um corpo, comeu e bebeu com os discípulos e permitiu que eles O tocassem.
f) Este corpo espiritual obedecia a Sua vontade. Ele desapareceu da vista dos discípulos em Emaús  no momento que considerou adequado.

A graça de Deus pode nos atingir nos caminhos mais variados e inesperados: passando pelas fendas de nossa existência, pelas brechas abertas em nós pelas grandes decepções, ou soprando as últimas brasas que, sob as cinzas da desilusão, ainda permanecem acesas. Os caminhos que levam ao encontro com Jesus podem ser os mais diversos e mais ou menos longos, mas a experiência do encontro pessoal com Ele é imprescindível para conhecê-Lo.

Fazer o caminho com os discípulos de Emaús é uma privilegiada oportunidade para recuperar o lugar e o sentido da conversação nas nossas diferentes relações pessoais. De fato, vivemos num mundo hiperconectado; o uso dos aplicativos de mensagens cresceu assustadoramente. O mundo, nossa vida, se converteu num “chat” contínuo.

Na verdade, não é coerente traduzir a expressão “chat” por conversação, porque estamos assistindo a um preocupante paradoxo: em meio a este “chat universal”, a conversação emudeceu; nem é tumulto nem é sussurro. Grande parte de nossas “conversações” fica prisioneira das telas (celulares, tablets, computadores, smarths...). Corremos o risco de reduzir a comunicação à conexão. Banalizam-se os conteúdos, mas também são amputadas dimensões fundamentais da experiência humana da comunicação, sobretudo a presença física.

Sem essa presença, sem o encontro pessoal, há um empobrecimento da verdadeira comunicação dialógica cara a cara, diante do olhar do outro; fora desta comunicação vivente com o outro, já não é possível autentificar a experiência do nosso próprio eu pois nos falta a relação primordial com um tu. O processo mesmo da conversação produz mudanças em nós: uma determinada frase, dita ou escutada, uma experiência de vida que tocou nosso coração, uma pergunta que nos tirou de nossa maneira habitual de pensar… são sementes para transformações posteriores.

No caminho de Emaús, Jesus, como mestre sábio na arte da conversão, parte da situação existencial em que os dois discípulos se encontravam naquele momento: provoca-os para que falem à vontade das causas de sua tristeza. No fundo do coração dos discípulos há um grande vazio que, inconscientemente, querem preencher “conversando e discutindo entre si”.

A pergunta de Jesus sobre o problema que causava tamanho sofrimento neles foi o ponto de partida para encontrar a resposta que, no fim do itinerário, iria esclarecê-los, iluminá-los e devolver-lhes a alegria e a esperança perdidas.

A pergunta de Jesus (“o que ides conversando pelo caminho?”) faz com que os discípulos levantem os olhos do chão e olhem para o rosto do peregrino desconhecido. Sem perceber começam a sair de seu fechamento e a alegrar-se porque alguém está interessado em saber quais são as causas de sua tristeza e quer escutá-los.

A pedagogia amorosa de Jesus deu certo: eles abrem o coração e contam “o que aconteceu a Jesus de Nazaré”. No entanto, o que aconteceu com Jesus não é contado por um coração ardente e exultante, mas por um coração ferido, desiludido e triste. A resposta dos discípulos é um resumo do querigma cristão; mas esse conteúdo é relatado como uma tragédia irreparável.

Depois de um longo diálogo com o peregrino, os discípulos não discutem mais entre si, mas unânimes, insistem para que ele permaneça com eles naquela noite. O pedido “permanece conosco”, em Lucas, expressa o desejo de ser discípulo de Jesus. Depois que Jesus aceitou o convite, a casa de Emaús, em vez de tornar-se um lugar de fuga e fechamento, como os discípulos pretendiam, tornou-se um lugar de acolhida e de partilha, de iluminação e ponto de partida para a retomada da comunhão com a comunidade dos demais companheiros.

Foi durante a “fração do pão”, que os olhos dos discípulos se abriram e reconheceram Jesus. A fração do pão continua a ser para os discípulos de Jesus de todos os tempos o “sinal por excelência da presença do Ressuscitado, o lugar onde eles podem e devem descobrir essa presença e a partir do qual poderão dar testemunho da Ressurreição” (J. Dupont).

O diálogo é consubstancial ao cristianismo. Deus é Palavra criadora e geradora de vida, mas em Jesus ela se manifesta como uma grande conversação. Sua presença junto aos discípulos de Emaús, é que possibilita a passagem de uma “conversa e discussão” marcada pela tristeza, dor e fuga a uma nova conversação, cheia de sentido e alegria. Os dois discípulos viveram uma verdadeira “páscoa”, isto é, passaram da discussão ao reconhecimento, do fechamento à abertura, do lamento ao agradecimento, do desânimo ao entusiasmo. Em resumo, a “passagem” do coração vazio e duro para o coração transbordante e abrasado.

A nova conversação os arranca da solidão e os faz retornar à comunidade para relatar a boa nova da experiência que fizeram. Conversação expansiva, desencadeadora de outros relatos vitais. E assim, os laços são reatados.

Sabemos que, a partir de uma posição conservadora, estática, rígida, é muito difícil que haja uma verdadeira conversação. É preciso sair de si mesmo, colocar-se em marcha. Só nesse deslocamento é onde podemos nos abrir às novas experiências e reconhecer a presença do outro.

O modo eminente de conversação entre as pessoas é aquele no qual se dá uma mútua atualidade da presença, e, portanto, um modo de comunicação no qual toda a pessoa se expressa, com gestos e palavras, e tem um caráter pascal, ou seja, a passagem para a comunhão, a paz, a iluminação...

Texto bíblico:  Lc 24,13-35


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