O MONGE QUE DESAFIOU A IGREJA PREGANDO A FÉ!
O monge católico que abriu as portas para o evangelho genuíno e deu nova dimensão às igrejas evangélicas.
Para muitos, ele é só um nome relevante naquelas aulas de história da escola, sobretudo quando são estudados os movimentos socioculturais da Europa no século 16.
Para aqueles que professam a fé cristã fora da Igreja Católica, contudo, mesmo que não saibam, ele tem uma importância fundamental.
Estamos falando de Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano germânico que acabou, meio que sem querer, promovendo o que ficou conhecido como Reforma Protestante, um movimento que abriu as portas da religião, quebrando o monopólio da Igreja Católica e permitindo que passassem a existir, no mundo ocidental, diversas outras igrejas cristãs.
Meio que sem querer porque ele próprio nunca pareceu querer romper com a Igreja Católica.
Mas, intelectual respeitado que era, ele propôs uma série de mudanças no catolicismo de então e o que era para ser apenas um contraponto na igreja tornou se um trampolim para o nascimento de uma nova filosofia do cristianismo e surgimento de diversas vertentes de igrejas protestantes, porque essas acabaram, de alguma maneira, também seguindo essa trilha que foi aberta por ele", acrescenta Moraes.
"Lutero deixou um tesouro, que possibilita novas interpretações e ressignificações porque estamos lidando com esse negócio vivo chamado religião", complementa o teólogo.
Três pontos fundamentais
Souza enfatiza que eram três os pontos fundamentais defendidos por Lutero, e que ainda ressoam fortemente em boa parte das igrejas protestantes contemporâneas.
O primeiro foi a defesa da salvação pela fé, pela graça divina, por conta do entendimento de que Jesus Cristo se sacrificou em prol da salvação das pessoas.
Outra questão é a fundamentação bíblica, que deve ser o norte da religiosidade e cujo entendimento pode ser feito individualmente, por cada um, naquilo que se costuma chamar de "livre exame" das sagradas escrituras.
Não à toa, esse movimento fez com que a bíblia, antes comumente restrita ao latim, língua oficial do catolicismo, passasse a ganhar traduções nas línguas praticadas em cada país. Lutero, responsável pela tradução da escritura para o alemão, em publicação de 1534, é reconhecido como de suma importância também para a consolidação do idioma ali praticado.
"Ele é o pai da língua alemã, o pai da pátria", define a historiadora.
"O terceiro ponto importante é o entendimento do sacerdócio universal, ou seja, a ideia de que não havia diferença entre clero e fiéis", diz Souza. "Estes são os três fundamentos, eu diria, do protestantismo raiz. E estão presentes em igrejas pentecostais históricas, muito embora elas não reconheçam a paternidade de Lutero."
Esse reconhecimento, aponta a historiadora, é cada vez mais raro mesmo no meio evangélico. "Em quase absoluto, se desconhece Lutero. Teólogos e intelectuais protestantes obviamente o conhecem. Mas para o povo ele é um completo desconhecido", lamenta.
Atualidade
Ao analisar a conjuntura no Brasil e a trajetória de Lutero, a historiadora Souza diz que ele não se identificaria ao observar a evolução desse legado. Isto porque, em seu entendimento, a maior parte das denominações, sobretudo as neopentecostais e que se baseiam na chamada teologia da prosperidade, enveredou por um caminho que nada tem a ver com os princípios de Lutero.
"O meio evangélico brasileiro hoje é cheio de gurus, de pastores que determinam basicamente o que as pessoas devem fazer, pensar, inclusive em quem devem votar", diz. "Não há nada mais distante do pensamento de Lutero do que isso."
"Se Lutero fosse vivo hoje, ele se sentiria muito mais à vontade — excetuando algumas igrejas como a anglicana e alguns ramos metodistas — numa missa [católica] do que num culto evangélico", afirma. "Essa é minha opinião. Por causa da distância desse evangelicalismo brasileiro em comparação ao que ele entendia ser uma comunidade cristã."
*Texto originalmente publicado em fevereiro de 2023 e atualizado em 31 de outubro 2024
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